quarta-feira, dezembro 31, 2003

vou passar a meia noite sozinha na frente de um bar deprimente
última música do ano

shit luck

this plane is definately crashing
this boat is obviously sinking
this building's totally burning down
(enough! enough!)
and my heart has slowly dried up


Não volta pra trás. Por favor, não volta pra trás.
[20:34:00] ||-= ANPHISBENAH=-||: phibes.com.br ?
[20:35:08] Snot: phibes.com.br
[20:35:10] Snot: tá decidido
[20:35:13] Snot: pode registra
[20:35:14] Snot: :D
[20:36:00] ||-= ANPHISBENAH=-||: ok ja ta registrado
[20:36:10] Snot: ui
[20:36:10] ||-= ANPHISBENAH=-||: agora é só esperar a propagação do dominio
[20:36:13] Snot: i think i just had a tinny orgasm
[20:36:19] ||-= ANPHISBENAH=-||: haha
Sea and Cake: bom se o garagem nao tiver bom, podemos ir pra limi e silva, ou sei lá...
Snot: arram
Snot: dae a gente inventa alguma coisa
Snot: nem q eu vá pra rodoviaria bebe
Depois eu escrevo.
Empty again.
O que tá acontecendo?

terça-feira, dezembro 30, 2003

Purples, sobre a frase: é uma paráfrase. Eu recitei uma frase dela com as minhas palavras. hehehe

segunda-feira, dezembro 29, 2003

No fim, ele voltou e eu não acabei a minha lista. E nem postei mais no DJ.

Sexo.
Quits: leaozinho (Leaving: sentido? vou procurar algum na gaveta .___________. )
[@Phibes] eu já olhei lá
[@Phibes] nao tava
[@Phibes] ¬¬

domingo, dezembro 28, 2003

Ele voltou.
=/

(?)
Ele voltou.
=)
Eu estava olhando os hoteis de um pacote lá e olhem isso:

The rooms are dorm style and have 4-8 beds in them with a private bathroom. If you have a party of 4 or more then you can have a private room. If not, you will be bunked up with other people on the event. All girl rooms are available upon request (for girls only!).

Muito bom.
Texto do DJ que eu quis colocar aqui também. Aliás, vou colocar mais coisa lá ainda hoje.

Plantão Globo de Notícias

*Ana Paula Padrão*

Acabamos de ser informados da morte da primeira vítima brasileira do vírus do tédio, transmitido pelo mosquito tedius dusinfernis. O caso ocorreu em Porto Alegre, e a vítima, uma jovem de 21 anos, após 2 dias hospitalizada, acabou morrendo.
Vamos agora ao vivo com a reporter Júlia de Castro, diretamente de Porto Alegre.
Júlia, apareceram mais casos de tédio em Porto Alegre?

*Júlia de Castro*
Outros quinze casos já apareceram aqui em Porto Alegre e outros três em Canoas. Os pacientes estão todos em UTIs e em estado grave. Os médicos não sabem o que fazer, já que este é um caso novo e ainda desconhecido.

*Dr. Pedro Oliveira Rodrigues*
Infelizmente, nós não temos ainda uma cura. É possível dizer que não existe chance de recuperação destes pacientes já infectados. Temos agora é que acabar com a causa.

*Júlia de Castro*
Júlia de Castro, de Porto Alegre.

*Ana Paula Padrão*
Obrigado, Júlia.
Estaremos de volta a qualquer momento com mais informações.
Ana Paula Padrão direto do Plantão Globo de Notícias.
lista de coisas que eu quero fazer antes de morrer
(afinal, eu tenho a noite livre então sempre que lembrar de algo, virei aqui editar o post. leiam só quando eu avisar que acabei.)

- - - Ver um show do Misfits no dia 31 de Outubro em NY
- - - Ver um show do Hatebreed, também em NY
- - - Foder um cara ai que eu não vou falar o nome por que não dá pra todo mundo ficar sabendo disso (mas é um gay, com incontinencia urinária. entenderam?)
- - - Morar em LA
- - - Ir na casa do Fante em Hollywood
- - - Ir na casa do Buk em Hollywood
- - - Publicar um livro
- - - Escrever um livro
- - - Conhecer o Irvine Welsh (apesar de concordar com o buk de que os deuses não devem ser perturbados, mas eu tenho que dizer uma coisa pro cara, então...)
- - - Conhecer esta cidade. Me darei o direito de fazer um micro post aqui. Olhem esta página, da cidade esta. Eu estava aqui procurando sei lá oque e acabei ai. E acabei começando a viaja demais na porra da cidade e imagina umas bobagens aqui e decidi que eu preciso ir pra lá. E outra, Purples e Smash, olhem a página porque ela tem uns negócio de html muito afude. Tipo, procurem aqui o mapa interativo da Cidade de Angra. Tipo é muito afude porque tem informações sobre onde fica tudo na cidade e tal. Tudo com endereço e telefone. Enfim, era isso.
- - - Ir pra uma Cannabis Cup
- - -
Quem precisa de amor quando se tem dinheiro suficiente pra fugir cada vez que tu se enrasca?
Dinheiro pode não comprar amor, mas quem precisa dessa merda mesmo?
E outra. Eu não tenho grana nenhuma e só me enrasco.
E saúde dinheiro compra sim.
E não duvido que o Jerry aceite ser comprado.
Tudo bem, não se ele ficou triste. Mas pergunta se ele ficou indiferente ao fato.
Quits: Arrua ("Certas derrotas preparam-nos para grandes vitórias.")

Então eu ainda ganho na Mega Sena. Acumulada.
Aliás, ontem eu e a junkie estavamos discutindo uma coisa: quem foi o idiota que falou que dinheiro não trás felicidade? Em quantidades enormes ele trás sim. Pergunta pro Catarino, que ganhou os 40 milhões da Mega Sena, se ele ficou triste.
Trailer trash

Eating snow flakes with plastic forks
And a paper plate of course
you think of everything
Short love with a long divorce
And a couple of kids of course
They don't mean anything
Live in trailers with no class
goddamn I hope I can pass
high school means nothing
Taking heartache with hard work
Goddamn I am such a jerk
I can't do anything
And I shout that you're all fakes
And you should have seen the look on your face
And I guess that's what it takes
When comparing your bellyaches
And it's been a long time
Which agrees with this watch of mine
And I know that I miss you
And I'm sorry that I dissed you


Eu sei o que é 'dissed'.
hahahahahhahahaha

sábado, dezembro 27, 2003

sexta-feira, dezembro 26, 2003

E hoje é apenas 26 de Dezembro. Este ano não vai acabar. Eu estou avisando isso faz um bom tempo.
Sabe o que é chato? Ser acordada por uma pessoa que só sabe te criticar e ter que ficar ouvindo reclamações a teu respeito. Eu não me lembro da última vez que ele me fez um elogio. Mas eu me lembro que no primeiro dia que ele chegou aqui em casa ele reclamou da saia que eu estava usando, da louça suja na cozinha, da hora que eu fui dormir, do programa que eu queria ver na TV, dos meus ratos e dos livros que eu leio. Isso foi no primeiro dia. E a gente vai ter que passar 60 dias juntos. Exatamente os 60 dias que eu pretendia passar com o Richard, mas enfim. Eu entendo. Eu sei que ele está doente. Eu tenho pena dela. Pena, não é outro sentimento mesmo. É só pena. Eu não engulo essa idéia de que a gente tem que amar alguém só porque ela é 'família'. Não me vem com essa. Se uma pessoa é ruim, só te faz triste, só reclama de ti, porque diabos tu vai amar ela e querer ela por perto? Eu e ele só nos damos bem quando estamos longe. Quando a gente morava juntos eu vivia dentro do meu quarto só pra não ter que conviver com ele. Eu não via TV por que isso significaria ter que ir para a sala e eu não podia correr este risco. A única coisa que a gente fazia juntos era almoçar, mas a gente não conversava.
E sabe do que mais? Eu não sou a única que não quer ele por perto. Por que diabos vocês acham que ele está na minha casa? Por que eu convidei? Por que aqui é o mais confortável? Ou por que ele não tinha outro lugar para ir por que ele não foi aceito nas casas das minhas irmãs? Exato. A última resposta. Ninguém consegue conviver com ele, então acharam desculpas pra não recebê-lo. Eu não tinha desculpas para dar.
Uma das minhas irmãs falou que não podia receber ele em casa por que ela mora em um apartamento de dois quartos. Um é dela e o outro é da minha sobrinha. E ela não poderia deslocar a minha sobrinha por que só agora ela aprendeu a dormir no berço e ela não acha justo. E se ele foi ficar no mesmo quarto da minha sobrinha, ela não vai conseguir dormir direito por que o meu pai ronca e é barulhento, no geral.
A minha outra irmã foi proibida pelo marido. Ele falou que como a minha irmã está gravida de 8 meses e o médico mandou ela repousar não era uma boa idéia ele ficar lá por que a minha irmã ficava muito estressada. Mas a verdade é que ela não andava estressada por causa disso. Na verdade, ela nem estressada estava. Mas ele, o meu cunhado, se viu na obrigação de ficar fazendo sala e ter que passar as tardes todas aguentando ele. E ninguém consegue fazer isso.
O que mais me incomoda é que eles tem casas grandes, empregada, televisão, pessoas entrando e saindo. Aqui em casa eu fico sozinha o dia todo, não tenho empregada (nem mesmo comida) e não tem outro canal a não ser Globo. O meu sofá não é confortável e eu só tenho uma cama, a minha. Eu não durmo de noite, eu durmo de dia. Eu não tenho nada pra falar com ele. Nenhum assunto. A gente não se dá bem e ele me acorda de manhã pra reclamar de alguma coisa que não me faz sentido.
Eu fui fazer um negócio pra comer e não me deu vontade de lavar a louça na hora. Deixei ali na pia pra lavar depois. Ai ele reclama. Eu quero sair de saia num dia que não tem sol, ele reclama que eu vou passar frio. Eu quero comprar um livro, ele reclama que e compro livros demais pro gosto dele. Eu não tenho sono e ele quer que eu durma. Eu tenho que fazer tudo do jeito dele, na hora que ele quer e do jeito que ele manda eu fazer. Durante dois meses.
Falei com a minha irmã e ela concorda comigo. Isso não vai dar certo. Então nós vamos fazer uma reunião com todos e vamos fazer um rodízio. Vamos ver quando tempo ele precisa passar aqui e vamos dividí-lo em três. Cada uma fica um tempo com ele e era isso. Melhor do que nada. Até por que, se ele me irritar muito,eu vou sair de casa.

quinta-feira, dezembro 25, 2003

domingo, dezembro 21, 2003

Eu não sou uma pessoa ruim. Eu sou uma pessoa chata.
Eu preciso ficar sozinha.
Eu sei que agora eu provavelmente deveria ter atendido o telefone. Mas é preciso ter humor pra fazer estas coisas. Se não fica forçado. Aí não é legal. Então eu não atendi. Tchauzinho. Té semana que vem.
I wanna live in a city with no friends or family
I'm gonna look out the window of my color T.V.
I wanna remember to remember to forget you forgot me
I'm gonna look out the window of my color T.V.
Through the cracks in the wall
Slow motion for all
Dripped out of the bars
Someone smart said nothin' at all
I'm watching T.V.
I guess that's a solution
They gave me a receipt that said, I didn't buy nothin'
So rust is a fire and our blood oxidizes
My eyes rolled around, all around on the carpet
Oh hit the deck, It's the decal man
Standin' upside down and talkin' out of his pants
I wanna live in a city with no friends or family
I'm gonna look out the window of my color T.V.

I don’t know but I’ve been told
You never die and you’ll never grow old

Modest Mouse - A different city
Três da manhã.
Ou então faz brownies.
Ai ele fala que vem pra minha casa. Eu limpo tudo, acabo com as drogas da casa. Passo uma semana sem fumas dentro de casa. Ai ele não vem. E eu mea nimo e compro 50gr. Ai ele liga e avisa que está chegando dentro de dois dias. E aí? Tu faz oque? Enfia no cu.

sábado, dezembro 20, 2003

Por que eu ainda atendo o telefone?
Eu penso sobre isso. Mas depois esqueço e atendo denovo. E me enrasco mais. Não, não enrascou de vez ainda. Mas foi completamente inesperado e eu fiquei meio 'hein?'. Mas baço é foda. Ainda não percebeu nada.
hehehe
Eu ainda não arrumei os comentários né? Purples, preciso, pela milhonézima vez, te pedir a senha. E o login. hehe
Pelo menos quando eu não tinha telefone eu não passava por essas. Eu ainda não sei porque eu ainda tenho essa merda. Ou melhor, eu não sei porque eu ainda atendo essa merda.
[Smash] AWAYSnot
[Smash] fala ae
[AWAYSnot] pera...to esperando no 102 pra pedi o tel do restaurante arabe lá
[AWAYSnot] hehe
[AWAYSnot] baalbek
* AWAYSnot agora é Snot
[Snot] é foda
[Snot] a gente qué come comida arabe
[Snot] passa o dia pensando
[Snot] ai decide o que vai pedi
[Snot] se lembra q não tem o número
[Snot] liga pro 102
[Snot] fica ouvindo 'ligue ligue ligue 14, 14 no seu celular'
[Snot] até te atenderem
[Snot] ai tu pede o número do baalbek
[Snot] q obviamente
[Snot] o cara não sabe escreve
[Snot] ai tu começa a soletrar
[Snot] ai ele acha
[Snot] e te avisa q pra informa custa R$1,38
[Snot] tu tá com tanta vontade de come
[Snot] q tu paga
[Snot] ai tu liga pro baalbek
[Snot] e são 11:18
[Snot] e os pedidos fecham as 11
[Snot] é foda
[Snot] to dizendo
[Snot] ¬¬

sexta-feira, dezembro 19, 2003

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Natália Rodrigues, DESLIGAAAAAAAAAAAAA.
- Compro o que?
- Um elefante.
- Quê?

...

Que teto.
Modest Mouse, pessoas. Modest Mouse.
Bom, o pai tá bem. A cirurgia correu sem problemas. Ele tá conseguindo comer já. Agora só faltam os cinco anos de quimio e radio.

sábado, dezembro 06, 2003

Blogger COERENTE.
Pessoas que desligam o celular porque não querem atender, ME LIGUEM. Não que eu vá atender.
A gata da Nicka deu filhotes. Ela vai me dar um todo preto. Amei. O nome vai ser Modest Mouse. Muito certo que eu vou chamar ele de Rato Modesto. Ou não. hehehehe
Muito obrigado a todos que foram ontem no Cavanhas. Aline, Diego, junkie, Nicka, Purples, Ana, Clas, Dani e Profaner. POUCAS cervejas. POUCAS risadas. Saudade disso.

P.S.: Encontrei o Cristian na Lima & Silva. "Sumida, hein? Vê se aparece. Tô com saudade." Arram. Mas, olha...apesar e tudo, DESLIGAAAAAAAAAAA.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Mais um candidato ao Prêmio Palhaçada do Ano. A Unimed. Mas como acho difícil ganhar, quero pedir uma prêmio especial dentro do Palhaçada do Ano. O prêmio Cris do Ano, que vai ter como 'estatueta' um repolho, pra quem fez a maior tosquice do ano. (Hmmm...Si pá eu ganho esse.) Enfim. A Unimed.
É foda. O cara passa a vida pagando um plano de saúde. Aí tem uma emergência e o plano de saúde quer cobrar pelas coisas. Pra transferir o meu pai de SM para POA era preciso uma ambulância. Certo. Fui eu e o meu cunhado na Unimed explicar o caso. Falamos que ele precisava ser removido pra POA pra uma cirurgia. Que era um caso de urgência. Que a cirurgia tinha/tem que ser feita o mais rápido possível. Sabe o que eles disseram? Que a remoção de paciente não está no plano, a não ser que seja pelo UniAir, mas que também é só pra alguns casos. Ou seja, pra trazer ele pra POA eles queriam cobrar R$1.250,00. Mas baixavam pra R$1.000,00. Eu achei/acho um absurdo. O meu cunhado falou uma coisa muito engraçada pra mulher. Que o pai não estava querendo uma viagem de graça, que ele não estava vindo por opção ou por diversão (isso ofendeu a mulher que achou que ele tinha entendido que ela não considerava importante o caso do pai. aparentemente ela não entende o significado de 'força de espessão'.), que ele estava vindo porque não tem um especialista em SM e não tem o equipamento (um acelerador de moléculas) necessário para o tratamento pós operação. Mesmo assim ela falou a mesma coisa. Papagaio. 'A remoção de pacientes não está no contrato, a não ser pelo Uni Air, ma sque tem restrições. A ambulância tem que ser paga por fora, por quilômetro rodado'. Certo.
Fomos ver uma ambulância particular e saia R$500,00. Adivinhem com qual ele veio? Certo.
Depois nós fomos ver como fazer pra pedir a requisição da cirurgia. Mais problemas aí. Primeiro era preciso pegar um laudo médico informando a Unimed que o paciente será transferido pra outra cidade e explicar os motivos. Fizemos isso. Levamos lá o papel. Ai, este papel vai para uma auditor, cujo trabalho é ser chato e saber todas as cláusulas do contrato e fazer com que todas sejam respeitadas. Total mecânico. Isso tudo é só pra deixar eles sabendo que isso vai acontecer. Depois, esta semana, temos que pegar aqui os papéis com o médico pra fazer a requisição de verdade.
Além do negócio da ambulância eu fiquei de cara com outra coisa. Eles não cobrem todo o tratamento. A gente vai ter que pagar 20% de tudo (médicos, cirurgia, hospital) por que é em outra área. A Unimed do pai é de SM, e ele vai se operar em POA. Não faz muito sentido, mas não tem opção. E não duvido que a gente processe eles depois. Existem milhões de casos semelhantes. E sempre ganha o cliente por que os juízes consideram abusivo o tratamendo dos planos de saúde. E realmente é. Se não existe tratamento no lugar onde a pessoa fez o plano e ela não tiver como pagar pra ir pra outra cidade, fica como? E se a gente tiver que pagar 20% de todo o tratamento posterior, quanto custa isso? Óbvio que não vamos deixar de fazer, mas é um gasto completamente inesperado. Eles querem que eu tire o dinheiro de onde? Maianus? Será que tem um acelerador de moléculas em Maianus?
Enfim, a Unimed é uma toquice. Tokos! Filhos da puta. Caras de pau. Vigaristas. Sempre dando um jeito de tirar mais um pouco de grana das pessoas. O negócio da ambulância é um absurdo. O plano é justamente pra isso. Pra quando tiver uma emergência, tu ter a segurança que vai poder se tratar. Não vai precisar ficar se preocupando com o dinheiro e poder ter o tratamento adequado. Seja ele pra uma unha encravada ou uma cirurgia no cérebro. E a ambulância deles, do convênio, é mais cara do que uma particular. Como assim? COERENTE isso. COERENTE. Olha, ainda estou por conhecer algo tão COERENTE assim. Vão se foder. Bando de pau no cu. Como eles sabem que é emergência e que a pessoa precisa ir, tem a cara de pau de cobrar por fora. O dobro do preço, ainda por cima. Tokos. Cris style. Repolho pra vocês. Depois que tudo isso acabar eu vou ir numa Unimed levar um repolho. Juro.
Não sei porque diabos o Blogger funciona tão mal aqui na casa da minha irmã.
Date: Wed December 3 2003, 09:06
From: DeadJournal.com
To: Dalila Phibes
Subject: Ya made it another year! Happy Birthday!
Message:

Happy Dead-day Dalila Phibes!!

According to our records (if you filled in the stuff correctly) you have been alive for yet another year! Just think of all the pain and suffering your mother went through to birth you on this very day! I hope it was all worth it for her! :)

Seriously, do have a good birthday, and party hard for all of us here at DeadJournal.com!

--
DeadJournal.com
http://www.deadjournal.com/


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By far, o melhor email de aniversário que eu já recebi. E o mais apropriado também. Happy Dead-day Dalila Phibes!! Perfeito.
Bom. Vou explicar tudo aqui por que ando meio cansada de ter que contar pra cada um o que está acontecendo. Até porque as minhas irmãs são mais nervosas do que eu e vivem se confundindo sobre o que está acontecendo e sempre sobra pra mim contar o caso.
Vamos por partes.
Fui pra Santa Maria. Não tinha data certa para voltar pra Porto Alegre. Chegando lá, o médico do pai fez uma reunião com toda a família pra nos explicar o que estava acontecendo. Ele falou que o câncer do pai é sério, requer uma cirurgia delicada, que em Santa Maria não tem ninguém especializado nesta área de pescoço (inicialmente achavam que era só nas amídalas, mas quando abriram ele pra retirar este tumor, viram que já estava espalhado pelo pescoço) e também não tem o equipamento de radioterapia que ele vai precisar para depois. Então a recomendação dele era mandar o pai pra um especialista no assunto. Existem dois grandes médicos oncologistas especialistas em pescoço no Brasil. Um deles em Porto Alegre.
Isso foi muito bom. Assim ele fica perto das filhas, da famíla, tem o tratamento adequado. Vai ficar morando com a minha irmã até acabar as quimios e radioterapias. Vai ficar bem cuidado. Nós não iamos poder ficar em SM com ele. E lá ele só tem a Suzana, que tem o trabalho dela e não ia poder ficar com ele e, além disso, e com todo o respeito do mundo, não é família. Aqui eu e as minhas irmãs vamos cuidar dele. Quando uma não pode, tem mais duas pra quem recorrer. Além dos cunhados, as netas, os amigos, os médicos mais preparados e os equipamentos. O próprio médico em SM falou que é muito diferente ele se operar lá com um oncologista que opera pescoço uma vez por ano do que com um cara que há 33 anos só faz isso. Concordo.
Bom, providenciamos a vinda dele pra POA o mais rápido que conseguimos, e hoje de tarde já estavamos no consultório do médico que vai operar ele. O consultório dele fica no centro clínico da PUC. Sim. Do lado do São Lucas. E a cirurgia vai ser lá. Ironia pouca é bobagem. A minha mãe morreu no São Lucas, não que tenha qualquer relação, mas eu não pretendia voltar lá um dia. Achei um dos lugares mais frios em que já estive.
O médico, Doutor Nedio Steffen, é um cara legal. Gostei bastante dele. É um cara bem realista, fala o que tem que ser dito, não esconde nada. Falou que realmente é uma cirurgia delicada. Que eles vão ter que abrir o pai e fazer uma limpeza por dentro dele e retirar todo o tumor. Que nisso vai sair uns 280 gr de coisas do pescoço dele, entre pele, músculos, veias, carótida e afins. Que a cirurgia tem sequelas. Provavelmente ele vai ficar com o ombro um pouco caido, que ele vai precisar de fisioterapia depois de sair do hospital. E que tem um nervo facial que provavelmente vai ser removido também. O nervo que comanda o canto da boca. Mas que ele prefere tocar no nervo mas tirar todo o tumor, do que não querer chegar perto do nervo e deixar tumor junto com ele. Todos concordamos. Mais tarde até o meu pai estava fazendo piada com isso. Disse que vai começar a fumar cachimbo pra disfarçar. Fumar maconha, claro. Tá, é mentira. O cara com um câncer na garganta não vai fumar, mas ele aceita chá de maconha, o que vai ser legal de ver.
A cirurgia está marcada pra Segunda-feira de tarde. É provavel que em cinco dias ele tenha alta do hospital e já vá pra casa comendo pela boca. A única coisa que não é certa ainda é se ele já vai estar respirando pelo nariz. A traqueia (?) dele está muito apertada por causa do tumor, então na primeira cirurgia eles precisaram fazer uma traquiostomia porque não deu pra passar os tubos. Deve ser um saco não poder falar. Ainda mais quando tu tem que responder um monte de coisas e, aparentemente, eu sou das únicas pessoas que entende bem ele só lendo os lábios. Todos aqueles anos de prática em não dar ouvidos pra ele estão finalmente valendo pra alguma coisa. Humor negro pouco é bobagem também. E outra, quando ele se acidentou de carro ele também precisou de uma traquiostomia e eu era a enfermeira que cuidava disso. Fazia os curativos, limpava, tirava o catarro. Eu tinha doze anos. As minhas irmãs tinham nojo. Frescas.
Bom, claro que estamos todos meio nervosos e apreensivos, mas confiantes. Claro, câncer é uma doença difícil, mas não adianta nada ficarmos todos agindo como se ele fosse morrer na mesa de cirurgia. Não vai. Eu realmente confiei neste médico. Ele parece absurdamente seguro do que está fazendo. E parece muito sério quanto ao que está fazendo. Ele grava em vídeo as consultas. Enfiou uma câmera pelo nariz do pai e outra pela garganta. Gravou tudo. Depois nos mostrou o que era a cirurgia que ele vai fazer. Explicou os procedimentos. Falou da recuperação. Mostrou vídeos de pacientes dele que passaram pela mesma cirurgia. Nestes vídeos eles mostrava como fica a cicatriz, como fica um pouco afundado o pescoço por causa dos músculos que vão ser retirados. Realmente explicou tudo, todas as nossas dúvidas.
Mas como eu ia dizendo, o medo não é a cirurgia, mas o pós-operatório. O tratamento. E os cinco anos seguintes que ele vai ter que se cuidar. O negócio é dar tempo ao tempo. Não adianta ficar nervoso porque não vai ser uma coisa que vai ter resultado imediato. Temos que esperar. E neste meio tempo, tentar ser o mais positivo possível pra não deixar ele desanimar também.
É triste ver ele assim, sem poder falar. As vezes ele fica olhando pro nada, ai escorre uma lágrima do olho. Alguns assuntos são proibídos por perto dele. Como a minha mãe. Quando falam dela, ele enche os olhos de lágrima e fala em como seria bom ter ela do lado dele agora. Ela realmente era uma mulher forte. E passava muito isso pra ele. Muito mesmo. Mas ainda tem três filhas aqui e a gente não vai deixar ele se entregar. E tem o irmão dele também que falou que o que for preciso vai ser feito. Que não existe opção. Ele vai se curar. Se tiver que levar pra São Paulo (onde fica o outro fodão do assunto no Brasil), vamos pra São Paulo. Vamos fazer o máximo possível.
Tirando isso, a minha viagem pra SM foi bem mais rápida do que o esperado. Só deu tempo de dar uma passada no estúdio (no caminho pra Unimed) e dar um 'oi' pro pessoal lá. E de noite eu vi o Orlando, o Preto e o Otávio, mas nem deu tempo de matar a saudade direito. Mal deu pra conversar. Assim que as coisas se acalmarem eu quero voltar pra lá e passar um dia inteiro do lado do Smash. E do Preto. E do Roger e da Joci. Tá, preciso de vários dias em SM.
Acho que está tudo explicado. Agora as minhas cordas vocais querem tirar férias das palavras 'linfoma', 'malígno' e 'carótida'. E obrigada a todos que comentaram e tal. Eu sei que posso contar com algumas pessoas ainda. Maninhas, todas vocês (se eu decidir citar nomes, vou acabar esquecendo alguém), amo vocês. Léo e Smash, nem preciso dizer. E jason, eu estava falando sério. E Isaac Brock, DESLIGA. E Sym, me absorve então. E né, é nóis.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

"Lately, it feels like brain cells are not doin' it for me anymore."

>>> Eu, conversando com uma pessoa pelo KaZaA
Não estou com saco pra terminar de arrumar o template agora. Mas estou com vontade de escrever um pouco.
Cortei o cabelo hoje. Ficou legal. Recebi um pagamento de um trabalho que fiz pra Stemac. Isso também foi legal.
Ganhei presentes de aniversário hoje. Blusas de uma irmã e um livro da outra. Legal.
O livro? A clockwork orange. Em inglês. Muito muito muito legal mesmo.
Comprei também o 'Pulp' do Bukowski e o 'The catcher in the rye' do Salinger. Legal.
=)
A cirurgia do meu pai não foi muito bem. Ele está bem, mas o caso é mais sério do que o esperado. O câncer está espalhado pelo pescoço todo. Eles tiraram as amídalas e agora vão fazer outra biópsia. Dependendo do resultado ou ele vai precisar de outra cirurgia pra retirar o resto do tumor, ou ele vai pra quimioterapia. E eu achando que tudo ia se resolver facilmente. E eu achando que ‘the worst is over’. E eu achando que ele ia voltar logo pra Fortaleza, onde ele parecia ser feliz. Eu queria que ele ficasse feliz. Ainda estou pra conhecer alguém tão forte quanto o meu pai. O coitado parece que não tem sorte mesmo. Tudo fode na vida dele.
Perdeu um irmão quando ainda era criança. Perdeu o pai e a mãe. O outro único irmão dele mora em São Paulo. Perdeu a mulher que era a única companhia leal que teve. ‘Perdeu’ as filhas para outras cidades, outros homens, outras drogas, outras coisas. Nasceu de uma família classe média. Estudou e trabalhou bastante para conseguir levantar o nível de vida da família. Perdeu todo o dinheiro que tinha. Se afundou nas bebidas, o que não ajudou muito para manter o pouco que ainda restava. Passou a ser sustentado pela sogra e pelo trabalho da sua mulher. Parou de beber. Conseguiu parar de beber. Muita gente não tem tanta força de vontade assim. E, mesmo depois de tudo isso, ele não desistiu. Voltou a trabalhar, e o melhor de tudo é que era em uma coisa que ele gosta de fazer. Estava conseguindo ir em frente com esses projetos quando descobriu o câncer.
Eu não consigo evitar em sentir pena dele. Eu não consigo evitar em pensar que eu tenho que ir pra lá de uma vez. Eu tenho a sensação de que ele vai acabar morrendo mais cedo do que o esperado. E não sei se isso é uma coisa ruim ou não. É muito chato ter que ver ele triste, chorando, com medo. E eu sei que ele está com medo, apesar de parecer confiante. Todos estamos com medo e fingimos estar confiantes na frente um dos outros. Ninguém quer demonstrar medo pra não assustar os outros, mas ninguém consegue manter o assunto por mais de cinco minutos sem desviar o olhar.
Câncer é foda. Não tem cura. Não tem remédio. Tem um tratamento que funciona em um terço dos casos. Um terço. Uma pessoa em casa três consegue se curar com quimioterapia. E as outras duas? Desistem? Não existe mais nada para se fazer depois da quimioterapia? Acho que não. E a quimioterapia é um tratamento longo, cansativo, desgastante. Se ele for pra quimioterapia, todos nós iremos para a quimioterapia. Todos estaremos sofrendo em ter que ver ele emagrecer, perder cabelo, ficar fraco, com enjôos, vomitando. E a depressão que isso causa. Eu me lembro de quando ele tinha depressão. Me lembro perfeitamente da imagem da minha mãe entrando no quarto e eu fiquei sentada na escada, espiando dentro do quarto. As luzes estavam apagadas, a janela fechada e o meu pai dormindo, de costas para o espelho que tinha do lado da cama dele. A mãe foi levar comida pra ele. Se a gente não levasse, ele não comeria. Não que ele comesse quando a gente levava. Aquele dia ele não quis comer. Uns minutos depois a mãe saiu do quarto, com a bandeja de comida intocada nas mãos, chorando.
Chorando. Eu estou chorando. Eu estou com medo. Eu tenho medo de ele morrer e eu não conseguir dizer nada pra ele. Eu queria dizer alguma coisa que fizesse alguma diferença, mas eu não sei o que. Eu nem sei o que eu sinto. Eu não gosto muito de pessoas e sei me virar bem na ausência delas. Sei que ele vai morrer um dia, como todo mundo vai, e acho que já estou conformada com a idéia. O meu medo maior não é de ele morrer, mas de ver ele sofrer. Apesar de não morrer de amores por ele, de odiar muita coisa que ele fez e faz, de não conseguir me relacionar com ele, de saber que a gente só se dá bem quando temos, no mínimo, cem quilômetros nos separando, eu não quero ver ele sofrendo mais. Família a gente não escolhe, por isso eu acho um absurdo as pessoas terem que amar a sua família. Algumas pessoas porque não merecem amor, de qualquer forma mesmo, mas outras porque simplesmente a gente não se dá bem. Eu não me dou bem com a minha família mas sei que eles vão sempre estar ali pra mim. Assim como eu vou estar aqui pra eles. É hipocrisia demais querer que os outros estejam lá, e virar as costas quando eles precisam de ajuda. E, claro, de certa forma, tudo é amor, só que em níveis diferentes. Eu amo o meu pai e não quero ver ele passando por dificuldades. Mas não sei se devo dizer isso pra ele. ‘Eu te amo’ não é uma frase muito usada entre eu e ele. Me sentiria uma imbecil, uma mentirosa até, em falar isso agora.
Enfim. Nada disso importa. Só o que vem ao caso agora é que eu estou indo para Santa Maria e não sei quando volto. Mas na volta eu vou fazer a minha tão falada festa de aniversário. Manterei vocês avisados. E obrigado a todos que ainda me aguentam e me escutam e me deixam chorar (shhhhhhhht junkie).
Parabéns pra mim,
Nessa data COERENTE,
Muitas infelicidades,
Poucos anos de vida.
Ler. É isso que eu tenho feito. Eu leio e leio e leio e quero cada vez mais ler. Li '1933 foi um ano ruim' do John Fante. É legal. É Fante. É a cara dele. Ando com vontade de ler o 'Pergunte ao pó' de novo. Eu gosto dessas coisas estilo 'vida besta' que ele escreve. Tanto que li o '1933...' duas vezes já.
Li um livro de contos do Bukowski chamado 'Hot water music', que tem uma das piores traduções de título já feitas na história. 'Numa fria'. Gostaria de saber o que se passou na cabeça do Marcos Santarrita quando ele traduziu isso. Puuuuuuxa. Péssimo título. Mas o que vem ao caso é o livro. Alguns contos eu achei meio chatos. Outros meio enrolados. Mas os outros são muito bons. Acabei de ler também o ‘Hollywood’, do Bukowski. Muito bom. Muito engraçado. Muito fácil de ler. Neste ele conta a história de quando ele escreveu um roteiro para um filme.
Acho que toda essa leitura quer dizer alguma coisa. Eu só leio tão compulsivamente assim quando não quero pensar muito a respeito de nada. Nada além de livros. Enfim...
Este fim de semana o pai veio para cá. Sábado a noite toda a família foi jantar fora, pra comemorar o meu aniversário. A gente encontrou o Léozin no caminho e ele foi com a gente. Foi legal. Estava com saudades do Léo. E ultimamente não tenho achado tão ruim assim passar tempo com a minha família. Não morro de amores por eles, mas consigo passar mais tempo no mesmo ambiente que eles.
Quarta-feira é o meu aniversário. Vinte e um e nenhuma idéia do que vai acontecer. Deve ser porque nada vai acontecer. Nada nunca acontece. Eu não tenho muitas expectativas. A única coisa que eu estou esperando acontecer é acabar este ano idiota. Aliás, este fim de semana também não ajudou muito. Está no fim e parece que nem começou ainda.
E eu não estou com saco de escrever, o que me assusta. É que eu tenho as idéias, tenho textos prontos na minha cabeça, mas não estou com vontade de escrevê-los. Ainda. Daqui uns dias eu me ataco e escrevo. Na verdade, eu tenho que primeiro acabar umas traduções. É isso que está me atrapalhando. Eu sei que tenho que fazer este trabalho, mas não tenho a mínima vontade. E fico adiando. E me enrolando cada vez mais. E cada vez que eu vou começar alguma coisa eu me sinto culpada, porque sei que deveria estar trabalhando, e ai desisto de fazer qualquer coisa e me afundo mais uma vez em livros. Preciso parar de fazer isso. Agora.
Noite Fria
(Charles Bukowski)

Leslie andava sob as palmeiras. Parou diante de um cocô de cachorro. Eram dez e quinze da noite em Hollywood leste. O mercado subira 22 pontos naquele dia e os especialistas não sabiam explicar o motivo. Eram muito melhores para explicar quando o mercado caía. A catástrofe deixava-os felizes. Fazia frio em Hollywood leste. Leslie abotoou o botão de cima do casaco e teve um arrepio. Curvou os ombros contra o frio.
Um homenzinho de chapéu de feltro cinza aproximou-se dele. O rosto parecia a frente de uma melancia, sem expressão. Leslie pegou um cigarro e atravessou o caminho do homenzinho. O outro tinha seus quarenta e cinco anos, um metro e sessenta e poucos, uns setenta quilos talvez.

- Tem fósforo, senhor? - ele perguntou ao homem.
- Ah, sim...

O homem enfiou a mão no bolso e enquanto fazia isso Leslie meteu-lhe o joelho nas virilhas. O homem rosnou e curvou-se, e Leslie deu-lhe uma porrada atrás de uma das orelhas. Quando o homem caiu, Leslie ajoelhou-se, sacou a faca e cortou-lhe a garganta, ao frio luar de Hollywood leste.
Foi tudo muito estranho. Foi como um sonho meio lembrado. Leslie não sabia ao certo se aquilo estava acontecendo de fato ou não. A princípio, o sangue pareceu hesitar, era apenas um corte profundo, depois o sangue esguichou. Leslie recuou enjoado. Levantou-se, afastou-se. Depois voltou, meteu a mão no bolso do homem, encontrou os fóscoros, levantou-se, acendeu o cigarro e afastou-se rua abaixo, em direção a seu apartamento. Leslie nunca tinha fósforos suficiente, a gente sempre vivia sem fósforos, ao que parecia. Fósforos e esferográficas...
Leslie sentou-se com um uísque com água. O rádio tocava Copeland. Bem, Copeland não era grande coisa, mas era melhor que Sinatra. A gente pegava o que conseguia e tentava satisfazer-se. Era o que seu velho lhe dizia. Foda-se seu velho. Fodam-se todos os meninos de Jesus. Foda-se Billy Graham.
Ouviu uma batida na porta. Era Sonny, o garoto louro que morava defronte dele, no lado oposto do pátio. Sonny era meio homem e meio pau, e vivia confuso. A maioria dos caras de pau grande tinha problemas quando acabava a trepada. Mas Sonny era mais legal que a maioria; era suave, era delicado e tinha um pouco de inteligência. Às vezes era até engraçado.
- Escuta, Leslie, quero falar com você uns minutos.
- Tudo bem. Mas, merda, estou cansado. Passei o dia todo nas corridas.
- Mal, hum?
- Quando voltei ao estacionamento, depois que acabou, descobri que um filho da puta tinha arrancado meu pára-choque ao sair. Isso é uma merda, você sabe.
- Como se saiu com os cavalinhos?
- Ganhei duzentos e oitenta dólares. Mas estou cansado.
- Tudo bem, não vou demorar muito.
- Tudo bem? Que é que há? Sua velha? Por que não dá umas porradas pra valer em sua velha? Os dois vçao se sentir melhor.
- Não, minha velha está bem. Só que...merda, eu não sei. Essas coisas, você sabe. Parece que não consigo entrar em nada. Parece que não me ligo. Tudo travado. Todas as cartas tomadas.
- Porra, isso é normal. A vida é um jogo unilateral. Mas você só tem vinte e sete anos, talvez dê sorte em alguma coisa, de algum modo.
- Que fazia você quando tinha minha idade?
- Estava pior que você. Ficava deitado no escuro à noite, bêbado, na rua, esperando que alguém me atropelasse. Não dei sorte.
- Não conseguia pensar em outra saída?
- Isso é uma das coisas mais difíceis, imaginar qual deve ser a primeira jogada da gente.
- É... Tudo parece tão inútil.
- Nós matamos o filho de Deus. Acha que aquele Sacana vai nos perdoar? Eu posso ser louco, mas sei que Ele não vai!
- Você só fica sentado aí, com seu roupão rasgado, e passa metade do tempo bêbado, mas eu sei que é mais são do que qualquer um que eu conheço.
- Opa, gosto disso. Você conhece muita gente?

Sonny apenas deu de ombros.

- O que eu preciso saber é se há uma saída. Há alguma espécie de saída?
- Garoto, não há saída. Os analistas aconcelham a gente a jogar xadrez ou colecionar selos ou jogar bilhar. Qualquer coisa, menos pensar nos problemas maiores.
- Xadres é um saco.
- Tudo é um saco. Não há como escapar. Sabe que alguns vagabundos de antigamente tatuavam no braço: "NASCIDO PARA MORRER." Por mais primitivo que pareça isso, é sabedoria fundamental.
- Que acha que os vagabundos tatuariam no braço hoje?
- Não sei. Na certa alguma coisa tipo "JESUS BARBEIA".*
- Não podemos fugir de Deus, podemos?
- Talvez Ele não possa fugir de nós.
- Bem, escuta, é sempre bom conversar com você. Sempre me sinto melhor depois de conversar com você.
- Quando quiser, garoto.

Sonny levantou-se, abriu a porta, fechou-a e se foi. Leslie serviu outro uísque com água. Bem, os Rams de Los Angeles tinham formado sua linha de defesa. Uma boa jogada. Tudo na vida evoluía para a DEFESA. A Cortina de Ferro, a mente de ferro, a vida de ferro. Um treinador realmente durão ia acabar mandando chutar no ar toda vez que sua equipe pegasse a bola, e jamais perderia o jogo.
Leslie acabou o seu uísque, baixou as calças e coçou o rabo, enterrando os dedos. As pessoas que curavam suas hemorróidas eram idiotas. Quando não havia ninguém mais em volta, era melhor do que ficar sozinho. Leslie serviu-se outro uísque. O telefone tocou.

- Alô?

Era Francine. Francine gostava de impressioná-lo. Gostava de achar que o impressionava. Mas era uma chata elefantina. Leslie muitas vezes pensava em como era bom deixando que ela o chateasse daquele jeito. O cara médio bateria o telefone na cara dela como uma guilhotina.
Quem escrevera aquele excelente ensaio sobre a guilhotina? Camus? Era, Camus. Camus tinha sido um chato, também. Mas o ensaio sobre a guilhotina e O Estrangeiro eram sensacionais.

- Almocei hoje no Bervely Hills Hotel - ela disse. - Tive uma mesa só pra mim. Salada e drinques. Dustin Hoffman estava lá, e algumas outras estrelas de cinema também. Conversei com as pessoas sentadas perto e elas sorriram e balançaram a cabeça, mesas inteiras de sorrisos e acenos de cabeça, carinhas amarelas como narcisos. Continuei falando e eles sorrindo. Achavam que eu era alguma doida, e o jeito de se livrarem era sorrindo. Foram ficando cada vez mais nervosos. Você entende?
- Claro.
- Achei que você gostaria de saber disso.
- É...
- Está sozinho? Quem companhia?
- Esta noite estou realmente cansado, Francine.

Após algum tempo Francine desligou. Leslie despiu-se, tornou a coçar o rabo e entrou no banheiro. Correu o fio dental entre os poucos dentes que lhe restavam. Que feiúra, aquelas coisas penduradas. Devia espatifar os dentes restantes com um martelo. Todas as brigas de beco que tivera e ninguém pegara os dentes da frente. Bem, tudo acabaria ficando bem. Acabado. Leslie pôs Crest na escova elétrica e tentou ganhar algum tempo.
Depois disso, sentou-se na cama por um longo tempo, com um último uísque e um cigarro. Pelo menos era alguma coisa a fazer enquanto se esperava para ver no que daria. Ele olhou a caixa de fósforos em sua mão, e de repente lembrou-se que era a que tirara do homem da cara de melancia. O pensamento espantou-o. Aquilo tinha acontecido de fato ou não? Ele fitava a caixa de fósforos, imaginando. Olhou a tampa:

1.000 RÓTULOS PERSONALIZADOS
COM SEU NOME E ENDEREÇO
APENAS 1 DÓLAR


Bem, pensou, isso não parece um mau negócio.


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* "JESUS SHAVES" - Trocadilho com saves (salva), de "Jesus saves", com shaves (barbeia).
Estou em fase de mudança de template. Tenham calma.